terça-feira, 19 de maio de 2015
Focinho
Eu sou um cão. Focinho avante, rabo em riste. Cão andarilho, curioso e cuidadoso. Um bom cão. Olhar vivo, faro minucioso. Fujo do perigo e ladro pro inofensivo. Corro atrás de pneu, louco, com a língua de fora. Não uivo pra lua, não sou idiota. Uivo pros letreiros em neon. Eu trepo. Trepo com cãs, com objetos, com a sua perna. Trepo com o pneu que persigo. Gosto de seu afago. Te olho com olhos doces, sacudo meu rabo e me deito aos teus pés. Rolo na grama, mostro os dentes e rosno pra minha intuição, tudo isso enquanto lambo incessantemente o meu saco. Não sei quanto a você, mas eu sou um cão de luz, de rua. Fuço vida no meio do lixo. Mordo pulgas e ameaças. Corro trotando por calçadas imundas e mijo no seu portão, pois é isso que sou. Ainda sou teu cão. Um cão dos infernos, com uma única e singular cabeça. Certamente, um bom cão.
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