Me enveneno com café dia após dia. Ande rápido na rua, desvie dos obstaculos (ou "pessoas", se preferir), contato ocular, contato ocular, vamos!, contato ocular. Olhou, olhou, olhou e lá se foi mais um par de olhos verdes. Em dias assim, amores de calçada sempre me deixam um furo no peito. Em dias como esse o café tem um gosto mais forte do que o de sempre. Lavo o rosto oleoso e estou ali no espelho. Gosto de pensar que sou um cactus. Longo, poucos espinhos e sozinho. Sabe aquele amontoado de cactus no meio do nada? Não estou lá. Um único e pálido cactus no meio de tudo. Pegue um facão, corte meu braço, e beba meu espresso.
Apesar de tudo, crescem flores bonitas de cheiro forte em mim.
terça-feira, 26 de maio de 2015
terça-feira, 19 de maio de 2015
Focinho
Eu sou um cão. Focinho avante, rabo em riste. Cão andarilho, curioso e cuidadoso. Um bom cão. Olhar vivo, faro minucioso. Fujo do perigo e ladro pro inofensivo. Corro atrás de pneu, louco, com a língua de fora. Não uivo pra lua, não sou idiota. Uivo pros letreiros em neon. Eu trepo. Trepo com cãs, com objetos, com a sua perna. Trepo com o pneu que persigo. Gosto de seu afago. Te olho com olhos doces, sacudo meu rabo e me deito aos teus pés. Rolo na grama, mostro os dentes e rosno pra minha intuição, tudo isso enquanto lambo incessantemente o meu saco. Não sei quanto a você, mas eu sou um cão de luz, de rua. Fuço vida no meio do lixo. Mordo pulgas e ameaças. Corro trotando por calçadas imundas e mijo no seu portão, pois é isso que sou. Ainda sou teu cão. Um cão dos infernos, com uma única e singular cabeça. Certamente, um bom cão.
Quimeras Inomináveis
Toda segunda-feira chove e eu não sei mais dançar.
Ciclo vicioso de reações desagradáveis e indesejadas. É lindo enquanto roda, mas já não roda há anos e eu não sei fazer rodar.
Confio aqui minhas quimeras inomináveis, lindas quando mortas, mas resistem em morrer. Vivem há anos: inacreditável.
Ciclo vicioso de reações desagradáveis e indesejadas. É lindo enquanto roda, mas já não roda há anos e eu não sei fazer rodar.
Confio aqui minhas quimeras inomináveis, lindas quando mortas, mas resistem em morrer. Vivem há anos: inacreditável.
quarta-feira, 6 de maio de 2015
Canção de ninar
Quanta janela fechada. Apartamentos com um cheiro horrível de mofo. Dizem que mofo é um ser vivo, mas me faz pensar na morte. Quando você morrer, sua cara ficará lotada de mofo. Sua virilha também. Entende? Que merda. Fumar um cigarro ouvindo Bob Dylan não tem preço. Antigamente eu não fumava. Nem refrigerante eu bebia. Costumava acordar tão bem...
Essa lata de lixo não tava aqui. Nem esse espelho. Nossos péssimos hábitos acabam se tornando nós mesmos. Vodka é uma merda, porque alguém beberia uma merda dessa? Eu bebo. Eu bebo e vomito pra cima. O lixo deve ter se rastejado pra cá enquanto eu não via, eu não vejo quase nada, poucas coisas prendem minha atenção e eu não consigo dormir, muito menos acompanhado. Ela apaga as luzes, transamos por horas e quando ela não aguenta mais pergunto "terminamos?" ela faz que sim, vira para o lado e dorme, mas eu não. Nunca eu. Pisco longamente e penso porque esse lixo tá aqui na frente do espelho. Tenho tanto medo de lixo. Não ligo pra espelhos mas de lixo eu morro de medo. Se eu fosse a um lixão, teria vontade de me afogar chorando no mar de chorume. Tenho medo de lixo e de gritar. Os gritos em si não me incomodam, mas o ato de gritar sim. Vai que alguém ouve. Tenho pavor.
Fico olhando pro teto torcendo pra desabar na minha cabeça e amassá-la como um pão de queijo sujo. Até que isso aconteça, talvez dê tempo de separar minhas revistas por ordem de lançamento com todas essas mulheres maravilhosas de tão escrotas que são estampadas como algo a ser seguido. Um corpo gostosinho e definido com o miolo mofado, quem ia querer algo assim? Eu quero.
Essa lata de lixo não tava aqui. Nem esse espelho. Nossos péssimos hábitos acabam se tornando nós mesmos. Vodka é uma merda, porque alguém beberia uma merda dessa? Eu bebo. Eu bebo e vomito pra cima. O lixo deve ter se rastejado pra cá enquanto eu não via, eu não vejo quase nada, poucas coisas prendem minha atenção e eu não consigo dormir, muito menos acompanhado. Ela apaga as luzes, transamos por horas e quando ela não aguenta mais pergunto "terminamos?" ela faz que sim, vira para o lado e dorme, mas eu não. Nunca eu. Pisco longamente e penso porque esse lixo tá aqui na frente do espelho. Tenho tanto medo de lixo. Não ligo pra espelhos mas de lixo eu morro de medo. Se eu fosse a um lixão, teria vontade de me afogar chorando no mar de chorume. Tenho medo de lixo e de gritar. Os gritos em si não me incomodam, mas o ato de gritar sim. Vai que alguém ouve. Tenho pavor.
Fico olhando pro teto torcendo pra desabar na minha cabeça e amassá-la como um pão de queijo sujo. Até que isso aconteça, talvez dê tempo de separar minhas revistas por ordem de lançamento com todas essas mulheres maravilhosas de tão escrotas que são estampadas como algo a ser seguido. Um corpo gostosinho e definido com o miolo mofado, quem ia querer algo assim? Eu quero.
E essa porra de teto? Que pesa, treme, mas nunca cai? Eu tô cansado. Eu tenho medo que essa porra de teto caia na minha cab--
Assinar:
Comentários (Atom)